quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu



"Seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu" é o terceiro pedido que fazemos na oração que nosso Senhor nos ensinou.

Ao assim orarmos, pedimos que seja feia a vontade de Deus em nossas vidas. Mas que vontade é essa?

Há uma vontade oculta em Deus, que diz respeito aos seus desígnios, que independem do nosso desejo para que se cumpram, como por exemplo, o fato d'Ele ter enviado o seu Filho ao mundo. Não dependia de nós desejarmos ou não, pedir ou não, o Pai iria mandar o seu Filho, bem como o Filho retornará mais uma vez. Embora isso faça parte da vontade soberana de Deus, não significa que não podemos ansiar por ela.

Além do que também há aspectos da vontade divina que se cumprirão em nossas vidas, e nessa oração expressamos nossa conformidade a ela, como por exemplo, dificuldades que o Senhor permite ou determina em nossas vidas.

Entretanto, é bem mais possível que a oração diga respeito à vontade moral de Deus, sendo cumpria espontaneamente na terra assim como ela é cumprida no céu. O cumprimento dos mandamentos, como o de amar como Cristo amou, se realizando em nosso meio.

Mas alguém pode perguntar: se diz respeito à vontade moral de Deus sendo cumprida na terra, isso não deveria vir em formato de oração à Deus, mas sim em exortação aos homens.

Sim, é verdade. Tais exortações devem existir. Mas o modo como o Senhor nos ensina a orar não deixa de ser também uma certa exortação aos orantes, no sentido de que devem viver aquilo que estão pedindo. E assim, o Senhor concederá ainda maior graça para que se possa viver o cumprimento de tal vontade.

E assim também se complementa o pedido para que "venha a nós, o teu reino". Afinal, no reino, a vontade de Deus é plena e voluntariamente cumprida, pois o reino é "paz, justiça e alegria no Espírito Santo".

Que possamos a cada dia ansiar pelo cumprimento da vontade de Deus em nós e no mundo!

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segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Aula 3 - Colossenses 1.15-20 - A primazia de Cristo na criação e na redenção

Os vers. 15 a 20 aparentemente retratam um hino cristão primitivo que relata a proeminência do Filho na Criação e na Redenção.

CRIAÇÃO

15 Este é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação;



16 pois, nele, foram criadas TODAS AS COISAS, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele.


17 Ele é antes de TODAS AS COISAS. Nele, tudo subsiste.

REDENÇÃO

18 Ele é a cabeça do corpo, da igreja. Ele é o princípio, o primogênito de entre os mortos, para em TODAS AS COISAS ter a primazia,


19 porque aprouve a Deus que, nele, residisse toda a plenitude






20 e que, havendo feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele, reconciliasse consigo mesmo TODAS AS COISAS, quer sobre a terra, quer nos céus.


15 Este é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação;

A imagem do Deus invisível – faz lembrar Gn 1.27, tendo sido o homem criado à imagem e semelhança de Deus. Entretanto, com uma diferença significativa (Cl 2.9; 2.3). Anos antes Paulo já havia escrito que Jesus era a imagem de Deus (2 Co 4.4). Jesus já havia “subsistido em forma de Deus” (Fl 2.6). Ele estava no princípio com Deus e era Deus, tendo se revelado aos homens (Jo 1.1,18). A ideia é de que o Filho corresponde plenamente à imagem de Deus. Assim como uma foto de uma pessoa corresponde à determinada pessoa, mais ainda Jesus corresponde completamente à imagem de Deus (Jo 10.30).

O primogênito de toda a criação. Aqueles que negam a divindade de Cristo utilizam esse verso para tentar demonstrar que Jesus foi a primeira criatura de Deus. Entretanto a ideia aqui não é de uma primeira criatura, mas sim de alguém que contém em si toda a criação. Note que o texto não diz acerca de dele como uma primeira criatura entre outras, como se estivesse na sequência, mas diz dele como realizando toda a criação, sendo antes de todas as coisas, sendo o próprio sustentador da vida (vers. 17)[1].

Se fizermos uma interpretação sistemática com outras passagens do Novo Testamento, não haverá margem para entendermos que Jesus não seja realmente plenamente divino, tendo existido desde sempre (Jo 1.1, 18; 10.30; 14.9; Fp 2.6; Hb 1.3; Ap 3.14; 1 Tim 1.17; 6.16; etc). Além do que é preciso verificar que, se aceitarmos que Jesus não tenha existido, ainda que por um curtíssimo espaço de tempo, a igreja primitiva teria sido politeísta em sua adoração, sendo o cristianismo talvez somente mais uma religião com um panteão de divindades a serem veneradas.

16 pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele.
17 Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo subsiste.

Nele foram criadas todas as coisas: Paulo abrange tudo. Tudo está em Cristo, sejam as coisas visíveis ou invisíveis. Não há nada, seja no universo material ou espiritual que não esteja em Cristo. Tudo foi criado nele, por meio dele, e para ele. Daí se diz que toda a criatura e toda a criação tem como finalidade ser d’Ele e para Ele.

                                                                       

Ele é antes de todas as coisas: não houve tempo em que ele não existisse (João 17.5).

Todas as coisas subsistem nele. Tudo subsiste em Cristo; nada fora d’Ele.

18 Ele é a cabeça do corpo, da igreja. Ele é o princípio, o primogênito de entre os mortos, para em todas as coisas ter a primazia,

Cabeça do corpo, da igreja. É a primeira vez que Paulo faz menção direta de Cristo como sendo o cabeça do corpo, da igreja. Aqui, a menção não é a igreja local, mas universal. Nas Escrituras, tanto a igreja local quanto a universal são chamadas de corpo de Cristo. E Cristo é sempre o cabeça. “Cabeça” significa soberania, autoridade, comando.

Assim como ele é o primogênito na criação, é também o primogênito na ressurreição, para ter primazia, seja na Criação, seja na Redenção. Ele é Criador e é Redentor. Tudo isso temos que verificar no contexto de combate ás ideias dos falsos mestres, que ensinavam que Cristo era somente mais uma criatura e que não poderia, de modo algum, efetuar sozinho nenhum tipo de salvação, sendo somente mais um dentre os principados e potestades.

19 porque aprouve a Deus que, nele, residisse toda a plenitude

Expressa o prazer do Pai de residir plenamente (pleroma, um termo muito usado pelos gnósticos) em Cristo. Veja. A plenitude de Deus não está fragmentada em várias partes, várias potestades, principados, ao ponto do redentor para estar no nosso plano de existência tivesse que rejeitar praticamente toda a sua divindade. A plenitude de Deus está e sempre esteve em Cristo (2.9).

20 e que, havendo feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele, reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, quer sobre a terra, quer nos céus.

Uma passagem em que muitos teólogos, como o grande Orígenes de Alexandria, pela sua leitura e interpretação literal, ensinaram que no final, todas as coisas serão reconciliadas com Deus, pelo sangue da cruz. Para ele e muitos teólogos depois dele, haveria esperança até mesmo para os anjos caídos. Não poucas pessoas têm ensinado assim, não excluindo todo o castigo e correção, mas que no final das contas, tudo será restaurado. Alguém disse que não seria possível uma alegria em um universo eterno em que se soubesse que há uma câmara de tortura para todo o sempre. Essa ideia foi considerada herética pela igreja católica romana e por todas as protestantes que se consideram ortodoxas, sobrevindo aqui ou acolá. 

A outra interpretação é no sentido da vitória de Cristo na cruz pelo seu sangue, submetendo todos pelo seu poder, pacificando assim o universo, restaurando-o em todos os sentidos, pacificando inclusive forças malévolas que seriam obrigados a se reconciliar, posto que vencidas e colocadas em um espaço onde não poderiam mais provocar desarmonia.




[1] Também houve quem fizesse um paralelo entre Cristo e a sabedoria (Pv 8.22), ideia bastante elaborada pelos pensadores judaicos de cultura grega; mas tal paralelo tem claras limitações.

A cura do paralítico de Cafarnaum




Marcos 2:1-12  (Esboço da mensagem)

-Jesus, o Filho de Deus, se limita a estar em lugares pequenos, limitados e comuns para que possamos nos ajuntar para ouvi-lo ensinar sua palavra; -Jesus está em casa, podemos ir até ele;
-Jesus e sua palavra atraem, onde ele está se ajuntam muitos;
-Onde Jesus está habitando, ele mostra o seu poder;
-Alguns dos que vem ter com Jesus conduzem outros a virem também, ainda que carregando-os;
-A paralisia de alguns é tão grande que será preciso mais de um para conduzi-lo à casa de Jesus;
-É possível que a multidão, o povo que está reunido para ouvir Jesus na casa dele, seja em algum momento, impedimento para os mais debilitados ou os que estão carregando outros a se aproximarem também;
-Mas eles calcularam e arrumaram uma forma de se aproximarem de Jesus, exatamente no ponto onde ele estava, o lugar mais perto de Jesus;
-Eles descobriram o telhado, fizeram uma abertura no lugar onde Jesus estava e baixaram o leito em que estava o paralítico;
-Quem está trazendo alguém debilitado a Jesus, muitas vezes, precisa descobrir o telhado, fazer a abertura, ir pela entrada mais difícil, abrir a passagem e introduzir a pessoa diante de Jesus na condição em que ela está;
-Vendo-lhes a fé, Jesus disse ao paralítico: filho, os teus pecados estão perdoados;
-Jesus olha a fé do que intercede e introduz alguém à presença dele;
-Jesus perdoa os pecados do paralítico revelando qual era sua necessidade primeira, mais urgente; -Estavam ali alguns escribas, doutores e interpretes da lei que censuraram e repreenderam em seus corações a atitude de Jesus por não compreenderem quem ele é, o Filho de Deus;
-Jesus responde verbalmente o que eles questionaram em pensamento, no coração;
-Para mostrar que ele tem autoridade na terra para perdoar pecados, Jesus manda o paralítico levantar;
-Mas uma vez Jesus quer mostrar que os sinais, os milagres que ele opera, são para revelar quem Ele é, e mostrar qual a real necessidade do homem, o perdão de Deus, reconciliar-se com Ele;
-Jesus diz ao paralítico: eu te mando, levanta-te, toma o teu leito e vai para sua casa;
-Jesus diz: eu ordeno que você se ponha de pé, pegue o seu apoio de doente e vai para o seu lugar; -Então, o paralítico se levantou, e no mesmo instante, tomando o leito, retirou-se à vista de todos, a ponto de se admirarem e todos darem glória a Deus;
-Quem se submete a autoridade de Cristo, é curado da sua paralisia e de pé faz o que ele ordena, levando outros que estão na casa e fora dela a glorificarem a Deus e maravilharem-se nele;

Considerações e aplicações 
- A casa onde Jesus estava era possivelmente de Pedro, seu discípulo. A casa de um discípulo de Cristo, tem que ser reconhecida como a casa do próprio Jesus, tem que ser lugar de reunir-se para ouvir sua palavra, e se tornar um lugar de perdão e milagres, não só para quem mora, mas para os que vem;
-Não é errado usar estratégias, meios não convencionais para levar alguém a Jesus, desde de que o único lugar onde essa estratégia leve, seja o ponto exato onde o mestre está ensinando sua palavra; 
-Na casa onde Jesus está, a palavra é anunciada, há movimentações comuns, há movimentações incomuns, há perdão, há cura e no final, Deus quem é glorificado;
-Existem alguns acometidos de tão grande paralisia, que você precisará de ajuda de outros para introduzi-lo na casa onde Jesus está; 
-Continue crendo, Jesus vai falar com quem você tem apresentado a ele;
-Onde Jesus está anunciando sua palavra:
Muitos, se ajuntam;
Alguns, vem a ele com fé trazendo alguém;
Alguns, aglomeram-se impedindo outros mais debilitados de entrar também;
Alguém, recebe o perdão e é completamente restaurado;
Todos, se admiram, dão glória a deus e testemunham.
 -É possível ser mestre da palavra e não compreender a forma como Cristo age;
-Jesus cura o homem completamente: Alma: filho; Espírito: perdoado estão os teus pecados; Corpo: levanta-te;
-Nós podemos ser carregados, introduzidos à presença do mestre Jesus por alguém, mas o perdão, a cura, a transformação sempre será entre você e Jesus;
-Que paralisia ainda há na vida de alguns de nós, que fazem as pessoas sempre terem que nos carregar até a presença do Cristo novamente?
-Se estamos na casa dele, diante dele, e Ele já nos perdoou, é hora de dar ouvidos e submeter-nos a sua ordem:
Levanta-te = ponha-se de pé; Toma o teu leito = toma aquilo em que você tem se apoiado, se assenhore; E vai para sua casa = vá para o seu lugar, o reino de Deus, sua família, a sociedade, o lugar que conhecia sua paralisia; 
-Quando formos curados de nossas paralisias por Jesus: Faremos movimentos que nunca fizemos antes, ou fazíamos e deixamos de fazer; Deixaremos de nos apoiar em coisas que começamos a nos apoiar por causa da paralisia; Seremos a vista de todos como nunca fomos antes, ou já fomos e deixamos de ser; Tudo isso trará glória a Deus, o único digno! 

 Significados* • Multidão = grande número de pessoas/povo; • Escriba = doutor da lei/que escrevia e traduzia a lei de Moisés; • Paralisia = perda de função motora em determinada parte do corpo/falta de ação.
*Fonte: Dicionário Aurélio

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

AULA 2 – Colossenses 1.9-14 – As orações em favor dos colossenses


“Por esta razão” (vers. 9): que razão? Qual fato? Pelo fato de Paulo e Timóteo terem ouvido da fé dos colossenses em Cristo Jesus e do amor que eles tinham para com todos os santos (vers. 4), entre outras coisas. Ou seja, tudo o quanto Paulo anteriormente tinha listado como motivo de agradecimento pela vida dos colossenses.

“Desde o dia que ouvimos” (vers. 9): ou seja, uma demonstração clara de que era uma igreja que eles não conheciam pessoalmente, mas que ouviram falar. Isso mostra que quando uma notícia chega aos nossos ouvidos acerca de irmãos na fé temos que orar.

“Não cessamos de orar por vós” (vers. 9): remete a uma atividade contínua, constante de oração pela vida dos colossenses. Esse era o costume constante de Paulo (Rm 1.9; Efésios 1.16; Filipenses 1.4; 1 Tessalonicenses 1.2; 2 Tessalonicenses 1.11). Paulo orava por todas as igrejas! Assim também a nossa rotina de oração pelas igrejas, pela vida dos irmãos, tem que ser constante.

Muitas vezes começamos com uma rotina de oração, mas não damos continuidade. Não deve ser assim. A oração tem que ser constante, e há quem diga que é a atividade mais importante da vida de um cristão.

E quais eram os motivos da oração de Paulo para com os colossenses? Quais os motivos de oração que o apóstolo julgava que era importante fazer pelos seus leitores?

1 - Que transbordeis de pleno conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e entendimento espiritual (vers. 9): Paulo não ora para que eles tenham um breve, superficial, ralo conhecimento da vontade de Deus. Ele pede para que eles tenham um conhecimento transbordante, muito maior do que qualquer falso mestre gnóstico poderia oferecer.

Conhecimento (“epignōsis”) = conhecimento que tem conexão com a obediência prática – está em contado direito com a vontade de Deus. A vontade de Deus: como deve ser o viver prático dia a dia. Aparentemente então Paulo deseja que os cristãos transbordem do conhecimento prático da vontade do Senhor, e não um entendimento oculto, misterioso, como queriam fazer valer os mestres gnósticos.

Sabedoria (“sophia”) e entendimento (“sunesis”) espiritual (“pneumático”): sabedoria e entendimento também estão ligados às situações concretas na vida. É saber aplicar na prática todo o conhecimento adquirido.

2 - A fim de viverdes de modo digno do Senhor, para o seu inteiro agrado (vers. 10): confirmamos aqui então que o conhecimento, a sabedoria e o entendimento é voltando não para uma especulação filosófica, mas sim para um fim prático, qual seja, o de viver de modo digno do Senhor para seu inteiro agrado. Não se trata de um agrado parcial, de satisfazer o Senhor em determinadas coisas e não em outras. É para agradar totalmente.

3 – Frutificando em toda a boa obra (vers. 10): tem a ver com um caráter frutífero rumo a um amadurecimento espiritual. Tem a ver também com o testemunho comunitário que aquela comunidade vai realizando em sua localidade, por meio do evangelismo. E tem a ver também com as boas obras, obras de misericórdia que são realizadas ela comunidade. Todas elas são fruto do conhecimento da vontade do Senhor. De qualquer modo, no texto presente, parece que a ênfase é dada no primeiro aspecto, conforme veremos a seguir.

4 – E crescendo no pleno conhecimento de Deus (vers. 10): aqui, não se trata somente do conhecimento de sua vontade, mas no conhecimento da pessoa do próprio Deus, que se dá por intermédio de uma comunhão espiritual, não somente teórica. A ideia é que se pode crescer nisso a cada dia também. Diferente da falsa “gnósis”, que é um conhecimento especulativo, aqui se trata de um conhecimento relacional. O conhecimento de Deus é vital para a vida eterna (João 17.3).

E quais serão os resultados do cumprimento dessas orações na vida dos colossenses?

1 – Fortalecimento: “sendo fortalecidos com todo o poder, segundo a força da sua glória” (vers. 11): Paulo sabe que essa vida que deseja que seus leitores vivam só pode ser vivida pelo poder de Deus, daí a necessidade das constantes orações. Não é uma vida que pode ser vivida somente pela carne, pelo esforço humano. Essa fonte é inesgotável, pois é segundo a força da sua glória.

2 – Caráter fiel: “em toda a perseverança e longanimidade” (vers. 11): essas virtudes demonstram que o frutificar mencionado anteriormente tem a ver com o crescimento pessoal do indivíduo. Notamos a maturidade de alguém mediante essas duas virtudes combinadas (entre outras). Perseverança é se manter constate em seus propósitos, mesmo em meio às dificuldades referentes aos fatos, situações, coisas. Longanimidade (longo ânimo, uma paciência “espichada” é o que possibilita aquela perseverança). Tem a ver principalmente com o suportar pessoas difíceis durante a jornada.

3 – Alegria interior: “com alegria” (vers. 12): essa vida de poder, de perseverança, de longanimidade não é para produzir santos carrancudos. Tudo isso deve gerar de fato a verdadeira alegria, que o mundo não pode fornecer nem tirar da vida do fiel. A alegria é fruto do Espírito.

4 – Gratidão: “dando graças ao Pai” (vers. 12): ou seja, uma vida de constante agradecimento. É um imperativo para que os colossenses tenham um coração grato. Mas dando graças pelo que?

Herança: “que vos (2ª pessoa do plural) fez idôneos à parte que vos cabe da herança dos santos na luz” (vers. 12): é um eco do antigo testamento, quando foi prometida uma herança à descendência de Abraão (Gn 13.4-17) que possuiriam e dividiriam a terra conquistada. Mas a nossa herança é muito maior, pois é a herança dos santos na luz.

Liberdade: “Ele nos (1ª pessoa do plural) libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor” (vers. 13): a mudança da segunda para a primeira pessoa do plural demonstra o modo como Paulo se sentia tocado pela mensagem que ele mesmo proclamava. Há aqui um movimento de libertação espiritual. Fomos removidos espiritualmente de um reino para outro, de um povo para outro. O império das trevas é onde reina a escuridão, a morte, a influência espiritual do diabo. O reino do Filho é um reino de luz, de amor.


Perdão: “No qual temos (1ª pessoa do plural) a redenção, a remissão dos pecados” (vers. 14): redenção é justamente esse resgate do reino das trevas. Remissão é o perdão dos pecados que obtivemos na cruz.

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Características de um verdadeiro discípulo

Colossenses: Aula 1

AULA 1 – Saudação e Ação de Graças

Saudação

1 Paulo, apóstolo de Cristo Jesus, por vontade de Deus, e o irmão Timóteo, 2 aos santos e fiéis irmãos em Cristo que se encontram em Colossos, graça e paz a vós outros, da parte de Deus, nosso Pai.

Remetentes: Paulo e Timóteo.

Destinatários: santos e fiéis que se encontram em Colossos.

Estilo literário obedece ao jeito clássico epistolar, entretanto, com linguagem cristã. Paulo usa um estilo do mundo, mas o embeleza com o evangelho de Cristo.

Apóstolo = enviado.

De Cristo Jesus = ligado diretamente à Cristo e pertencente à ele.

Por vontade de Deus = não por vontade humana; nem mesmo por escolha própria. É possível que este seja um aspecto bem interessante do chamado profético (do A.T.) e do apostólico (N. T.), tendo em vista que se tornar profeta ou apóstolo não parecia depender de um tempo de reflexão, meditação ou algo do tipo. Isso torna tais ministérios diferenciados na história do povo de Deus?

Timóteo = discípulo e companheiro de ministério de Paulo, provavelmente um dos mais estimados em sua jornada.

Aos santos = separados, chamados para ser santos

Fiéis = aqui também chamados de “crentes” – que possuem fé e vivem em fidelidade.

Em Cristo = unidos à Cristo pela fé
(note que nessa carta ele não utiliza a palavra igreja na saudação – dizer santos e fiéis já servem como um substitutivo).

Graça = “chairis” – um vocábulo notadamente cristão – revela o favor dado aos homens. O termo grego era “chairen”, levemente alterado para chairis. É uma saudação mais próxima então do modo grego de se expressar.

Paz = é o “shalom” judaico (“eirene”, no grego), resultado da graça de Deus na vida do fiel.
A combinação do termo grego com o judaico em uma única saudação também tem a intenção de demonstrar que em Cristo foram quebradas as barreiras entre judeus e gentios.

“Da parte de Deus” = talvez seja um eco do dito “quem vos recebe, a mim me recebe, e quem me recebe, recebe aquele que me enviou”. Fica claro que essa graça e essa paz não tem como fonte o apóstolo, mas o próprio Deus que fala e age, em Cristo, por intermédio do apóstolo.

“Nosso Pai” = declara aqui a irmandade do povo de Deus, considerada em conjunto. Jesus é o Filho unigênito de Deus, único, e que estende a paternidade do Pai a todos nós.

Ação de Graças:

3 Damos sempre graças a Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, quando oramos por vós,
4 desde que ouvimos da vossa fé em Cristo Jesus e do amor que tendes para com todos os santos;
5 por causa da esperança que vos está preservada nos céus, da qual antes ouvistes pela palavra da verdade do evangelho,
6 que chegou até vós; como também, em todo o mundo, está produzindo fruto e crescendo, tal acontece entre vós, desde o dia em que ouvistes e entendestes a graça de Deus na verdade;
7 segundo fostes instruídos por Epafras, nosso amado conservo e, quanto a vós outros, fiel ministro de Cristo,
8 o qual também nos relatou do vosso amor no Espírito.

Vers. 3. Paulo agradece “a Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo”. Note a singularidade afirmada na paternidade divina para com o Filho. Isso parece apontar para o fato de que o primeiro ato da oração paulina é a ação de graças pelos colossenes. Há quem observe que a ação de graças que Paulo faz tem o efeito em sua epístola de elogio aos destinatários (recurso que parece não ter se utilizado somente quando escreveu aos gálatas). Paulo irá ditar lições sérias nesta epístola, e ele nos ensina de que antes disso tudo, cabe elogios sinceros.

Vers. 4. Paulo ouviu acerca da fé deles, ou seja, não os conhecia pessoalmente, mas orava por eles. Isso nos mostra que sempre que temos notícias de outras igrejas, mesmo sem conhece-las, por elas devemos orar.

Paulo ouviu falar acerca da fé no nosso Senhor Jesus Cristo que eles tinham. Corremos o risco de achar que ter fé em Cristo Jesus seja algo natural, banal, quando na verdade o fato de crer realmente em Cristo Jesus é um ato da maravilhosa graça de Deus. Por isso, é cabível agradecer a Deus quando se tem notícia de que alguém tem fé em Cristo Jesus, pois isso é um ato sobrenatural da graça de Deus.

Paulo também agradece pelo amor que eles tinham por todos os santos. O resultado de uma verdadeira fé em Cristo é uma vida alicerçada no amor, notadamente o amor por todos os santos. O amor é o maior dom, assunto principal em Paulo, e no próprio Senhor Jesus, que ensinou que seriam reconhecidos como discípulos pelo mundo os que amassem uns aos outros como o próprio Senhor os havia amado (João 1.34-35).

Isso mostra-nos também que uma comunidade verdadeiramente baseada no amor de Deus também é um ato de sua graça, algo que pode estar se tornando raro de se ver, daí a necessidade de agradecer o dom divino por tal realização.
Vers. 5. Ao mencionar aqui o termo “esperança”, ele completa essa gloriosa “tríade” muitas outras vezes mencionadas ou subentendidas no novo testamento (fé, esperança e amor – como em 1 Co 13.13). Essa tríade está constantemente no testemunho e ensino de Cristo: “amem uns aos outros assim como eu vos amei” (Jo 13,34 - amor), “não se turbe o vosso coração, credes em Deus, credes também em mim” (Jo 14.1 – ); “na casa de meu Pai há muitas moradas” (Jo 14.2-3 – esperança).

A esperança que nos está preservada nos céus é parte integrante da pregação do evangelho, ou seja, da palavra da verdade. Essas três virtudes agem umas sobre as outras, ou seja, quanto maior a fé, maior a esperança e o amor, e assim sucessivamente.

Vers. 6. “como também em todo mundo” = a palavra da verdade estava sendo pregada no mundo todo de então. Paulo parece atribuir quase uma autonomia a essa “palavra da verdade”, que produz fruto e cresce, tudo isso feito pelo próprio Deus, que utiliza instrumentos humanos. A expansão do evangelho naqueles tempos foi um dos fenômenos mais surpreendentes para os historiadores até os dias de hoje. E isso, sem a utilização da força, ou de técnicas de comunicação, pois aprouve a Deus salvar “pela loucura da pregação”. Isso que estava acontecendo em Colossos (crescimento na fé) também estava ocorrendo em outras localidades.

Vers. 7. Paulo nos dá algumas informações: (i) Epafras era um conservo – servo de Cristo – juntamente com Paulo e Timóteo; (ii) Epafras foi que levou o evangelho aos colossenses, pois lhes é um fiel ministro – diáconos – de Cristo; (iii) O evangelho que Epafras pregou é aprovado por Paulo e Timóteo; (iv) A sucessão da verdade se deu de um apóstolo para um pregador, fiel ministro; (v) Os que se enveredam por um ensino diferente do dado por Epafras, estão em erro.

Isso também nos dá pelo menos dois aspectos da questão pedagógica cristã: (i) aquele que ensina deve ensinar muito bem os que aprendem; (ii) quem aprende também deve se dedicar para que possa ensinar a outras pessoas.


Vers. 8. A confirmação por meio do relatório de Epafras de que a comunidade de colossos era permeada pelo Espírito que gerava essa atmosfera de amor entre eles.

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Pneumatologia - Introdução

Significado

Pneuma (grego - vento) + logos (discurso, estudo, doutrina, palavra) = doutrina do Espírito Santo

Hebraico: Ruach (vento) – usado com vários sentidos, a serem determinados pelo contexto (ex: Jr 14.6; Jz 15.19; Sl 33.6; Jó 7.7; Jó 8.2; Gn 7.22; Gn 1.2

Pneumatologia é o estudo sistemático acerca da Pessoa e a obra do Espírito Santo conforme revelado nas Sagradas Escrituras.

A importância do estudo da doutrina do Espírito Santo:

- Uma das pessoas da Santíssima Trindade: Pai (Criador); Filho (Redentor); Espírito (Santificador)
- É Aquele que aplica pessoalmente a salvação sobre a vida do crente;
- É Quem torna possível o aspecto experiencial do evangelho em nossas vidas (comunhão com Deus, dons espirituais, consolação, fruto, transformação, etc).

Panorama histórico da doutrina do Espírito Santo

Nas Escrituras Sagradas, a divindade do Pai é explicitamente afirmada; a do Filho, argumentada; mas a do Espírito Santo, de modo geral, pressuposta por inferências lógicas (Erickson), conforme veremos no decorrer do curso.

No início da era cristã, não houve tanta ênfase acerca do Espírito, como em relação à concepção de Deus Pai, e também principalmente em relação ao Filho (gnosticismo, arianismo, etc).

Ainda assim, algo foi pensado acerca do Espírito. A concepção geral do final do segundo século é que foi o Espírito que escreveu as Escrituras, e ia aumentando em alguns autores uma maior compreensão da sua divindade (Clemente de Roma, Tertuliano, etc). Mas outros achavam que o Espírito era uma graça derramada sobre os apóstolos (Paulo de Samósata), um atributo de Deus (Irineu). O linguajar de teólogos como Orígenes davam dúvidas se o Espírito deveria ou não ser considerado como criatura divina e não parte da Trindade eterna. Outros achavam que era um anjo, ou a criatura mais elevada.

No início do sec. II, a história registra que Montano recebeu a experiência do dom de línguas e profecia, iniciando um novo movimento (montanismo), pregando um alto padrão de vida cristã, bem como enfatizando a volta de Cristo. Atribui-se a si o Espírito de Profecia, tendo como um dos mais notáveis convertidos Tertuliano, um dos maiores teólogos da antiguidade.

No final do séc. IV, o Credo Niceno-Constantinapolitano definiu que o Espírito deve ser adorado juntamente com o Pai e o Filho, entretanto, a história registra que mesmo nesse tempo ainda havia muita controvérsia em torno de sua pessoa e natureza. Nesse período, Gregório de Nazianzo e Basílio são tidos como uns dos maiores defensores da divindade e personalidade do Espírito.

Na idade média surgiu uma controvérsia entre a igreja ocidental (romana) e oriental (ortodoxa), qual seja, a cláusula “filioque” do credo niceno-constantinapolitano. No oriente se entendia que o Espírito procede do Pai (conforme João 15.26), mas no Ocidente, houve um acréscimo ao credo (procede do Pai e do Filho), o que contribuiu para a divisão da cristandade em 1054. De qualquer modo, doutrinariamente, nada mais se acrescentou à doutrina do Espírito.

Durante a Reforma (a partir do sec. XVI), Lutero enfatizou o trabalhar do Espírito em infundir amor e graça no coração dos crentes. João Calvino enfatizou a autoridade das Escrituras ressaltando a inspiração dos autores e o testemunho interior no coração de cada crente. Calvino também trouxe de volta ao ocidente a invocação do Espírito na oração eucarística, prática essa que parece ter sido abandonada na igreja ocidental (romana) de então.

John Wesley (sec. XVIII) enfatizou a operação do Espírito no que concerne a inteira santificação do crente, ensinando inclusive isso como uma segunda benção, o que veio a influenciar o movimento pentecostal posterior.

Do final do sec. XVIII ao XIX, houve um certo esfriamento em alguns setores da igreja. O “escolaticismo protestante” enfatizava mais a doutrina correta do que a experiência interior. O “racionalismo” colocou a razão e a ciência como juiz das Escrituras, afastando dela tudo o que não poderia ser provado cientificamente. O “romantismo” parece ter reduzido a religião ao extremo do subjetivismo, em puro sentimento (ou seja, a doutrina já não importava tanto). Entretanto, mesmo nesses períodos não deixaram de existir pregadores evangélicos avivalistas que davam grande importância à atuação do Espírito Santo na conversão das massas.

No final do sec. XIX, houve um novo interesse pelo estudo acerca do Espírito na teologia. Charles Parham (Kansas) e seus alunos chegaram à conclusão de que haveria um batismo no Espírito Santo após a conversão e o novo nascimento e que a evidência de que alguém o tivesse recebido era o falar em línguas, tendo relatados tais experiências (como no caso de Agnes Ozman), sendo aqui o início do movimento pentecostal. Entretanto, foi com William Saymour, nos encontros da Rua Azuza, 312 (Los Angeles), que o movimento pentecostal se popularizou nos EUA. Desde então, o movimento pentecostal e carismático tem se espalhado pelo mundo inteiro, influenciando mesmo as chamadas igrejas históricas, inclusive o catolicismo romano. Também há relatos de experiências do tipo pentecostal que se desenvolveram de modo independente na Escandinávia e no Reino Unido. Doutrinariamente, a ênfase histórica de boa parte do pentecostalismo, notadamente propagado pelas Assembleias de Deus é o batismo com o Espírito Santo, tendo como evidência o falar em línguas, sendo uma segunda experiência após a conversão. Mas mesmo dentro do pentecostalismo e em grupos carismáticos tal doutrina não é aceita, entendendo-se que se trata de somente mais um dentre outros dons do Espírito.


 Algumas Controvérsias envolvendo a doutrina acerca do Espírito Santo

- É Deus? Ou uma emanação do próprio Deus?

- Tem pessoalidade? Ou é somente uma força, uma energia?

- É Criador, juntamente com o Pai e o Filho, ou somente uma criatura?

- Procede somente do Pai, ou procede do Pai e do Filho?

- Ele convence “irresistivelmente” do pecado, da justiça e do juízo, realizando a regeneração, ou pode ser resistido?

- Os dons extraordinários como o de falar em línguas, curas milagrosas, e profecia, foram para um tempo específico, ou existem até os dias atuais?

- Somente os que falam em línguas são batizados com (ou no) Espírito Santo, ou o batismo é uma realidade na vida de todos os crentes?

- Os dons devem ser buscados e pedidos ao Espírito, ou não se deve busca-los, tendo em vista ser um ato de Sua soberania?

- O Espírito nos leva a algum tipo de transe, manifestações cúlticas extravagantes, gritos, ou nos remete à sobriedade, ao domínio próprio e tranquilidade?

BIBLIOGRAFIA

BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. Campinas: Luz para o Caminho, 1990.

ENNS, Paul. Manual de Teologia Moody. São Paulo: Editora Batista Regular do Brasil, 2014.

ERICKSON, Millard J. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2015.

FERGUSON, Sinclair B. O Espírito Santo. São Paulo: Os Puritanos, 2000.


HORTON, Stanley M. A doutrina do Espírito Santo no Antigo e Novo Testamento. Rio de Janeiro: Casa Publicadoras das Assembleias de Deus, 1993.