Leitura:
Filipenses 3.1-3
1 Quanto ao mais, irmãos
meus, alegrai-vos no Senhor. A mim, não me desgosta e é segurança para vós
outros que eu escreva as mesmas coisas.
2 Acautelai-vos dos cães!
Acautelai-vos dos maus obreiros! Acautelai-vos da falsa circuncisão!
3 Porque nós é que somos a
circuncisão, nós que adoramos a Deus no Espírito, e nos gloriamos em Cristo
Jesus, e não confiamos na carne.
COMENTÁRIOS
Quanto ao
mais, irmãos meus, alegrai-vos no Senhor. Alegrar-se no Senhor é se
alegrar em sua união com Ele. Alegrar-se na sua Palavra, nas obras que ele
determinou que fizéssemos. Alegrar-se por sofrer por amor ao evangelho.
Um dos pensamentos mais caros ao apóstolo Paulo é
que o crente é alguém unido ao Senhor, uma só alma com Ele.
É bem verdade que existem muitas coisas neste mundo
que podem e devem alegrar o coração humano, seja de uma pessoa crente ou não. Entretanto,
a maior alegria do cristão vem de sua união com Cristo. Por isso Paulo pode
dizer para sua igreja alegrar-se no Senhor. A alegria do crente é vivida na
união com o seu Senhor, e isso é algo que se pode sentir, viver.
É somente em Jesus e em sua obra que o crente deve
buscar sua fonte de verdadeira alegria, pois todas as coisas na vida do fiel
são feitas para a glória de Cristo.
A mim,
não me desgosta e é segurança para vós outros que eu escreva as mesmas coisas.
Paulo não se importa em ensinar as mesmas lições,
caso seja necessário. Em muitas outras partes dessa carta ele menciona o tema
da alegria, do regozijo no Senhor. Mas talvez ele também se refira ao que
passará a descrever agora.
Acautelai-vos
dos cães! Acautelai-vos dos maus obreiros! Acautelai-vos da falsa circuncisão!
Esse tríplice “acautelai” é uma ênfase. Parece que a maioria dos
comentaristas entendem que nesse versículo Paulo não está se referindo a três
tipos de pessoas (cães, maus obreiros e falsa circuncisão), mas uma só.
A maioria
entende que ele não se refere aqui aos judeus propriamente ditos, mas aos judaizantes,
ou seja, aqueles que entendem que de fato Jesus é o Messias, mas dizem que o
homem precisa se circuncidar para ser salvo. Era um grupo que ia atrás de
Paulo, distorcendo sua mensagem, ou dizendo que seu evangelho não era completo.
Mas vejamos o “apreço” que Paulo tem por essas pessoas. Há quem possa entender
que se trata sim de três tipos de pessoas diferentes, e que os judaizantes
pertenciam notadamente ao terceiro grupo. Veremos as duas possibilidades.
Cães: geralmente
os judeus chamavam gentios de cães. Aqui, Paulo inverte. Talvez seja uma alusão
à ferocidade, agressividade desses homens. Há quem diga que a agressividade é filha
do erro. Podemos nos lembrar de que quando a questão acerca da circuncisão foi
discutida antes do chamado concílio de Jerusalém, houve grande contenda.
Há quem entenda que cães aqui tenha a ver com
falsos crentes imbuídos na igreja. Pessoas da mais alta depravação que se
banqueteiam no meio do povo de Deus (Judas 12-13).
Maus
obreiros: eles de fato eram obreiros, e muito provavelmente estavam infiltrados
dentro da igreja. E eles eram obreiros porque provavelmente obravam muito
mesmo. Não é porque uma pessoa não prega a verdade que ela deixa de obrar, ou
de trabalhar naquilo que acredita. Muito pelo contrário. É muito comum vermos
nas seitas mais extravagantes um grande esforço proselitista. Não raras vezes
que se diz por aí que se os verdadeiros cristãos fizessem pela verdade os que
as seitas fazem pela mentira, muito mais poderosa seria a igreja dos dias
atuais. Entretanto, esses obreiros também eram maus. Eram maus porque
deturpavam a mensagem do evangelho. E não deturpavam em um sentido de que seria
somente uma questão de opinião. Para Paulo, essa questão da circuncisão era
inegociável.
Maus obreiros segundo outra corrente seriam mesmo
obreiros relaxados, que dão mau exemplo, não vivendo vida condigna do
evangelho.
Falsa
circuncisão: aqui se entende que se está a mencionar os
judaizantes. A falsa circuncisão não passava de uma circuncisão exterior, da
carne. Paulo não está aqui ofendendo a circuncisão que foi entregue a Abraão e
guardada historicamente pelo povo judeu. Paulo aqui critica quem utiliza desse
ritual como forma de salvação e que o quer impor aos gentios. Esse era o
problema. A circuncisão verdadeira, mesmo nos tempos de Israel, era a circuncisão
do coração (Deuteronômio 10.16). Ou seja, nem na antiga aliança o ritual
deveria ser destituído de uma verdadeira disposição do coração. Ocorre que na
nova aliança, a circuncisão é interior (Rm 2.28-29), e não pode o ritual ser
imposto aos gentios por fazer parte da aliança com o povo de Israel. Isso nos
mostra que mesmo lições verdadeiras do antigo testamente precisam ser
cuidadosamente aplicadas para os cristãos para não corrermos o risco em cair em
perigosa heresia. A circuncisão de fato era um ensino da antiga aliança, mas
não deveria se estender para a nova, notadamente no que se referia aos gentios.
Porque
nós é que somos a circuncisão, nós que adoramos a Deus no Espírito, e nos
gloriamos em Cristo Jesus, e não confiamos na carne.
Nós é que
somos a circuncisão significa dizer que nós, a igreja, é que somos o
povo de Deus agora. Há uma corrente de pensamento no sentido de que Deus não
tem dois povos sobre a terra; só tem um, e é formada por aqueles que receberam
o Senhor Jesus como seu Salvador. Esses são a verdadeira circuncisão.
Nós que
adoramos a Deus no Espírito. Adorar no Espírito significa que somos por Ele
habitados, selados e guardados. Se trata de uma adoração que flui do interior
para o exterior, e que não tem como marca somente um ritual externo ou um lugar
sagrado. É um entendimento que procede da verdade de que Jesus é o Senhor, e
que liberta de qualquer ritual, local, sistema, pois se trata de uma unidade
com o próprio Espírito de Deus, que não depende de se estar ou não em
Jerusalém, conforme o diálogo da mulher Samaritana e Jesus, pois quem crê, do
tal fluirá uma fonte para a vida eterna (João 4.14).
Nos
gloriamos em Cristo Jesus. Um eco de Jeremias 9.23-24. Ou seja, nos
gloriamos naquilo que Cristo fez por nós, na sua morte em nosso favor, em sua
ressurreição para nossa justificação, em sua intercessão constante pelas nossas
vidas diante do Pai. Há quem se glorie na sua religião, nos seus rituais, na sua
denominação, entre outras coisas. Mas Paulo, quando dizia que não se propunha a
saber nada mais a não ser a Cristo, e esse crucificado.
Não
confiamos na carne. Não
confiamos em nós mesmos, nas nossas obras, na nossa justiça própria, em um
ritual, ou coisa do tipo. como dito antes, nos gloriamos somente em Cristo.
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